“Eu pensava que Deus fosse muito acima de toda e qualquer manifestação emotiva as dos Homens. Hoje percebo que os sentimentos Dele, são iguais aos dos Homens. Ele é vingativo; ama mais algumas pessoas do que outras; beneficia mais uns do que outros”.
Esse desabafo foi de Clara (nome fictício), que ao sentar no divã, no meu consultório, explodiu de raiva, negando a boa paternidade do pai divino.
Pedi que ela continuasse com suas queixas, afinal, seus sentimentos estavam sendo minados por uma insegurança e medo por estar sozinha nos momentos dramáticos da sua vida.
Continua ela:
- Existem pessoas que sofrem muito, e ai chega um infeliz do sexto do inferno, se achando todo certinho da silva e diz que essa pessoa está passando por isso, em decorrência de algo errado que ela fez no passado. Esse infeliz não sabe que essa mesma pessoa, durante sua jornada na vida tentou se desviar de situações erradas, porém, por motivos de força maior, ela acabou sendo conduzida ao erro.
Eu pergunto:
- Essa pessoa pode ser considerada culpada pelo erro?
- Eu digo que não mesmo. Dentro do que entendo filosoficamente, de uma proporção de justiça, eu digo que não a considero culpada. Mas, Deus age de um jeito estranho, e essa pessoa que tentou se afastar do que não era certo, acaba sendo punida. Sua vida parece que só anda pra trás. Tudo dá errado, e as portas de bênçãos trancadas.
- Até parece que Deus escolhe pessoas para derramar bênçãos materiais sobre a vida delas.
- Pessoas nascem em berços de ouro; pessoas nascem em berços de lodo; pessoas nascem em berços de nada. Eu pergunto:
- Que Deus é esse que tem tanto poder e diz ser justo, permitindo que alguns nasçam de uma forma e outros de outra forma?
- É tão verdade aquele versículo que diz que quando Ele (Deus) criou o Homem, o criou a sua imagem e semelhança. Ou será que devemos deixar Deus em paz?
- Será que Deus está nas palavras daqueles que se intitulam enviados, escolhidos do Ser Supremo?
Como posso acreditar que essas pessoas são enviadas por Ele (Deus), se essas mesmas pessoas se organizam em templos enormes, cobertos de mármores, granitos, aparelhos de som de última geração, cadeiras ou bancos de madeiras, púlpito e um livro chamado “Escrituras Sagradas”, esfolando os bolsos dos chamados cordeirinhos?
- Esses mesmos que andam de carro novo pela cidade, circulam de avião de um Estado para o outro, compram emissora de televisão, de rádio, passeiam em shoppings, Nova Iorque, Flórida, Miami, Califórnia, adquirem suas casa próprias, a custo do sofrimento de uma parcela pobre da população. Um custo tão profundo que dentro desses templos enormes, pessoas entram neles, passam um tempo por lá, depois saem, sem ao menos ter sido notada. Pessoas com um coração sincero se sacrificam, deixando de viverem suas vidas normais para se dedicarem ao voluntariado. Enquanto em suas casas as necessidades não batem a porta, elas invadem, cortando suas linhas telefônicas, deixando suas geladeiras vazia, seus alugueis atrasados. Com o coração e bolso aberto, o dizimo não pode deixar de ser dado, mais o aluguel pode esperar, o plano de saúde nem pensar em pagar, pra que, afinal de contas, Deus cura todo mundo. Enquanto “Deus” não cura, o pobre do idoso fica a mercê da calamidade dos hospitais públicos.
- Será isso mesmo que está no coração de Deus?
- Será que Deus está contente em ver seus “escolhidos” pedindo dinheiro a torto e a direito nos templos “sagrados”?
- Será que Deus está gostando de ver sua casa como uma casa de comércio?
- Me dá um dinheiro ai, que eu peço pra Deus te curar.
- Não consigo acreditar nessa proposta.
No Evangelho segundo Mateus 21: 12 e 13 diz: Entrou Jesus no templo, e expulsou a todos os que vendiam e compravam, e derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração, mas vós tendes convertidos em covil de ladrões.
Fico chocada ao ver meu semelhante dormindo em baixo das marquises, das pontes, nas ruas. Fico pasmada em ver que pessoas simples estão dentro dos templos luxuosos, enquanto suas vidas vão sendo organizada de uma forma que, um mês ele paga o aluguel, no outro ele se alimenta. Um dia ele está vivo, e no outro ele pensa que melhor seria se suicidar. Um dia ele tem um teto pra morar, e no outro, pedem o imóvel dele por falta de pagamento.
- Cadê o dinheiro pedido nos cultos, nas missas?
Não deveria ser utilizado para certas emergências?
- Deus não está nesse negócio.
Imagino se as chamadas grandes igrejas – e estou falando da Católica e Evangélica - se unissem e utilizassem o dinheiro pra construir casas populares; escolas; hospitais estariam realizando o que Deus disse: Amai ao próximo como a ti mesmo. E de quebra deixariam muitas pessoas felizes.
E o questionamento vem de novo no meu pensamento.
- Pra que pedir dinheiro nos cultos ou missa?
- Será que Deus gosta realmente mais de um do que de outro?
- Será que os que tem situação financeira melhor, nasceram de Deus e os que não tem, nasceram do nada? Se é que nada pode dar origem a alguma coisa.
- Será que esses chamados “escolhidos” de Deus, são realmente escolhidos por Ele?
- Ou será que esses são dotados de uma sagacidade e a utilizam em beneficio próprio, chupando até o sangue das “ovelhas”, roendo seus ossinhos frágeis?
- É melhor deixarem Deus em paz.
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